quarta-feira, 11 de julho de 2012

FIZ UM LUTO DO MEU BOLO, ELE ESTAVA TÃO LINDO !

Um luto em um aniversário. Foi estranho ouvir isso, mas, segundos depois me pareceu uma coisa um tanto, óbvia! Tão óbvia que de alguma maneira, as palavras “fiz um luto do meu bolo, ele estava tão lindo” me atravessaram. Fizeram-me questão. E me causou de tal modo que me fez escrever sobre o que ouvi. Afinal, como costumo dizer: “só escrevo o que vejo e o que sinto”.
De alguma forma, não me remeteu a um luto qualquer, pois todas as palavras ditas giraram em torno da morte, de cortar e perder os pedaços. E em algumas vezes, do corpo (braços, pernas). E ai você deve estar pensando coisas do tipo: “Sim, atenha-se ao essencial. Diga o que tanto te impressionou no luto. Não faça tantos rodeios. Vá ao ponto”. Vou tentar ser breve. Embora, acredito eu, que você que esta lendo isso não tenha o costume de escrever. Encontrar as palavras digamos: “corretas”, ou melhor, as que mais se “adéquam” ao que ouvi, senti e pensei não é uma tarefa tão fácil. Ainda mais em um processo tão curto de elaboração (reflexão).
Um aniversário de luto, onde pessoas que antes estavam em nossas vidas não estão mais lá onde esperamos que estejam. Aqueles “amigos” que estavam presentes nos anos anteriores não estão mais lá, a modernidade fez com que todos os parabéns fossem direcionados ao facebook, aos emails e na raridade das vezes, as ligações. Onde foi parar aquele abraço de parabéns? Enfim,
Luto de nós mesmos. Não somos (embora às vezes desejemos) a mesma pessoa que éramos no ano anterior. No mês anterior. Na semana anterior. No dia anterior. Os sentimentos mudaram. O mundo (novamente) está diferente, a nossa família mudou. Nossos pensamentos, desejos, amores, enfim, nossa “essência” mudou. E somos convocados ano após ano a assumir um novo lugar... No mundo, na vida! UM ANIVERSÁRIO NÃO É UM ANIVERSÁRIO SEM LUTO. Morremos e nascemos novamente. Parece óbvio para mim! É interessante que, em uma “época” em que encontro-me descolando de alguns lugares e posições antes ocupadas em minha vida (para vir ocupar outra), o luto me atravesse.
A ausência de palavras para dizer sobre “A COISA” não é sem uma razão. E o luto, faz parte do processo. É necessário morrer, todo dia, todo mês, todo ano e, consequentemente, em todo aniversário! Matar a criança, ou melhor, o lugar infantil que me foi dado, as posições e o eu que me foi tanto falado pelos adultos que me cercaram por toda a vida.
A única certeza que sei é que este luto também foi meu. Bem, novamente não encontro palavras para continuar, para fechar ou produzir um final a essas colocações. Sei que este possa ser um desejo seu, que esta lendo isso. Convenhamos: isso não é uma corrida, não é necessário chegar a algum lugar, a um raciocínio concreto, fechado. Afinal, não estou falando de coisas concretas. Fechar é limitar, se amarrar a certezas. E o que amarra não te deixa seguir em frente – e seguir em frente é o meu objetivo. Fechar seria enquadrar; morrer. Porque só a morte, o luto, dá um fim às coisas. E sinceramente? Nem eu mesmo tenho o desejo de concluir. É isso!


Nenhum comentário:

Postar um comentário